Predestinado à morte para ‘combater o narcotráfico e as injustiças’, Sandro Morel é um exemplo de superação
Nicanor Coelho, de Dourados
O mundo é dos vivos. A memória dos mortos aos poucos vai se esvaindo e somente os familiares mais próximos é que guardam nos corações as lembranças, as dores e todos os amores.
Assim aconteceu com o soldado da Policia Militar Sandro Álvares Morel morto no Dia das Mães por um policial federal durante um confronto desastroso advindo de uma operação que tinha como fito o combate ao narcotráfico.
Mas quem é Sandro Morel? Ele é o filho da funcionária pública municipal Vilma Álvares, uma mulher que não sorri mais. O sofrimento acompanha sua vida desde que o seu marido morreu em 1975 quando Sandro era apenas um garotinho de pouco mais de um ano de idade. Quem foi Sandro? Foi um menino cheio de sonhos. Festeiro, trabalhador, bom pai, excelente marido, um verdadeiro “dono-de-casa”.
O Dia das Mães de 2011 vai ficar marcado na vida de Vilma que narra a partir de agora a saga de um filho que parece que nasceu predestinado para tombar na luta contra o narcotráfico, as injustiças e todos os males provocados pelas drogas ilícitas. A vida de Sandro não pode ser dissociada da história de Vilma que ficou desamparada com quatro filhos na barra-da-saia, assim que seu marido foi assassinado.
Onde dias depois de enterrar o marido que era um conhecido narcotraficante Vilma que era uma simples dona-de-casa teve que encarar o trabalho duro para sustentar os filhos. A mãe de Sandro se afastou da família Morel que ao longo de décadas esteve ligada a negócios ilícitos na fronteira Brasil-Paraguai. Levando uma vida paupérrima mas cheia de dignidade Vilma levantou a cabeça e foi à luta para criar seus filhos.
Trabalhava, trabalhava, somente trabalhava. Os pequeninos ficam em casa sob a guarda da filha mais velha Kátia que aos cinco anos de idade era a babá de todos os irmãozinhos. Bem educados os filhos de Vilma conheceram o bom caminho e nunca dele se desviaram. Kátia lembra até hoje de uma mãe guerreira que deixava de comer, de se vestir para que os filhos fossem felizes.
Durante anos Vilma morou no Parque das Nações, um bairro pobre de Dourados onde as reminiscências de um tempo feliz sempre povoam sua mente e a de sua filha Kátia, companheiras inseparáveis que agora nestes momentos de dor não se desgrudam um só momento.
Vilma vai devagarzinho relembrando fatos da infância feliz de Sandro. Uma grande bacia feita de pneu era a piscina do futuro policial militar que adorava os campinhos de futebol. O Flamengo era a sua religião.
Imberbe e ainda com voz fina Sandro abandona a infância para aos onze anos de idade começar a trabalhar para ajudar no orçamento doméstico.
Três anos depois foi empregado numa loja de autopeças. Passou por uma pequena mercearia antes de seguir para o serviço Militar. Na Brigada de Cavalaria Mecanizada de Dourados chegou a posto de “Cabo” e durante seis anos vestindo verde-oliva, Sandro forjou um “guerreiro” dentro de si.
Não conseguiu seguir na caserna e aos 24 anos de idade montou uma pequena lanchonete para ganhar a vida.
Era um cozinheiro de mancheia. Fazia espetinhos, dobradinha, pucheiro e outras iguarias para agradar aqueles que gostaram da cerveja geladíssima de seu bar.
Durou quatro anos essa odisséia quando então resolveu prestar concurso para entrar na Polícia Militar. Passou mas ficou no fim da lista. Enquanto aguardava ser chamado para voltar a ser soldado Sandro mudou-se para a cidade de Dois Irmãos do Buriti onde administrava uma Escola de Condutores de Veículos.
Finalmente, depois de longa espera entra para a Polícia Militar. Estava com trinta anos de idade.
A felicidade estava completa. Realizado o sonho de vestir uma farda para combater o crime Sandro estava repleto de felicidade. Pai de um menino e de uma menina, o paladino vestido de azul amava de tal maneira sua esposa que era um verdadeiro príncipe encantando.
Além de cozinhar, limpar o chão, lavar pratos e talheres, ele passava as roupas. Era um verdadeiro dono-de-casa. Fazia todo o serviço doméstico com prazer assim como a sua mãe lhe ensinara na infância. Dedicou-se a vida inteira a família e a sua mãe.
Vilma Álvares conta que Sandro todas as tardes lhe visitava. Sorrateiramente tal qual fosse um gato manhoso o filho chegava de mansinho para tomar o cafezinho vespertino com a mãe. Foi assim até o dia em que o destino lhe pregou uma peça fatal.
No Dia das Mães Sandro permaneceu na casa materna até as 14 horas. Depois Vilma não ouviu mais a voz do seu filho e muito menos aquele sorriso obliquo de um filho amado. Sandro, segundo a mãe, morreu sem realizar o sonho de levar toda a família para a praia.
- Na nossa família morre-se de velho!
Com esta sentença Vilma embarga a voz para lamentar a perda do filho e relembrar que sua mãe morreu aos 75 anos e o seu pai anda prá-lá-prá-cá com 94 anos de idade.
A morte de Sandro abalou a família Álvares que há muito tempo tenta se esquecer do nome “Morel” que tanto causou desgosto para as crianças de Vilma. Kátia lembra que na escola e no trabalho sempre que saia no noticiário alguma menção aos Morel envolvidos em crimes, dissabores invadiam sua vida e de seus irmãos.
Será que o tempo é mesmo o senhor da razão? Enquanto resposta convincente não surge, Vilma vai levando seus dias com um coração encharcado de lágrimas ainda sem entender todos os porquês da sua vida.
Vilma, forjada na união do ferro com o carbono fica reticente mas ainda consegue força para si, para os filhos, para esposa e aos filhos de Sandro.
A vida continua para a família Álvares que ainda sonha na justiça e espera que os descendentes de Sandro tenham orgulho da história de um homem que soube honrar a honestidade e todos os ensinamentos positivos recebidos numa infância difícil e perdida.
Assim como Timóteo que era encojarado por Paulo de Tarso a pregar o bem o policial militar Sandro Morel “combateu o bom combate” e acabou a carreira na crença que estava combatendo o mal das drogas.
Mas o exemplo deixado por Sandro não será em vão uma nova geração de policiais militares vai nascer já que seu fillho um menininho de apenas oito anos de idade trás no DNA a vontade de usar o azul da corporação que homenageia o alferes Joaquim José da Silva Xavier. Nicanor Coelho
Sandro encerrou a carreira e manteve a sua fé na profissão que escolheu.
Fonte: midiamax
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