Um lugar ermo, no meio de uma mata e conhecido como "casa de matar". O sítio de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio, talvez seja o ponto de partida para investigações de um histórico de crimes macabros cometidos por um grupo de extermínio. Além de Bola, entre os criminosos, estariam homens da tropa de elite da Polícia Civil.
As denúncias de que o sítio era usado como centro de treinamento do Grupo de Resposta Especiais (GRE) foram confirmadas pela reportagem de O TEMPO que, ontem, entrou na propriedade no bairro Coqueirais, em Esmeraldas. Também há denúncias de que, no local, tenham ocorrido cerca de 50 assassinatos.
No terreno do ex-policial civil, exonerado há 18 anos, há uma série de indícios que tornam o lugar, no mínimo, suspeito. Um contêiner com a logomarca da Polícia Civil e da antiga Secretaria de Segurança Pública está fechado com cadeados.
Por uma pequena janela, foi possível observar estruturas de madeira, que parecem servir como camas. Há vários manequins usados como alvos para a prática de tiro. Alguns, ainda não utilizados.
Dois veículos sem placas e repletos de marcas de tiros integram o cenário. Em um barranco, a sigla GRE foi desenhada na terra. A profundidade da marca chama a atenção, assim como uma cabeça de boi pendurada em um pedaço de madeira.
Mais à frente, vários pneus estão dispostos - como paredes - para formar cômodos improvisados. Em um deles, caixas cheias de munição deflagrada. Há cartuchos de pistolas de vários calibres, e até de fuzil. Havia galões espalhados. Poucos passos depois, a reportagem encontrou outra grande quantidade de pneus.
O caminho do sítio que adentra a mata é todo de areia fofa, marcado por muitas pegadas - o que dá a entender que o local foi frequentado recentemente.
Bola é acusado de matar a ex-namorada do goleiro Bruno com requintes de crueldade. Os métodos seriam os mesmos usados contra outras vítimas, conforme denúncias feitas à reportagem por um agente da Polícia Civil: primeiro a pessoa era esquartejada, depois queimada dentro de pneus. Restos que sobravam eram dados para cachorros.
Explicações. Na quinta-feira, a assessoria da Polícia Civil havia negado que o sítio de Bola tenha sido usado para treinamento do GRE. No entanto, ontem, após reportagem publicada por O TEMPO, a corporação voltou atrás.
Em nota, a polícia informou que o "sítio alugado por Bola foi usado para treinamento de policiais do GRE em 2008 e meados de 2009, por meio de cessão gratuita. O espaço deixou de ser utilizado quando a Corregedoria Geral de Polícia recebeu uma denúncia, em 2009, de que um crime havia ocorrido no local no ano anterior. O caso está sendo investigado."
Mas, segundo os vizinhos, o local continua movimentado. Moradores afirmam que costumam ouvir tiros vindos do sítio. O último barulho teria ocorrido há 15 dias. As testemunhas também revelaram a presença constante de policiais no local. O sítio de Bola também seria palco de festas nos fins de semana.
O ex-policial tem uma vida marcada por confusões. Ele foi acusado por furto, extorsão, formação de quadrilha e por porte ilegal de armas.
Perguntas que precisam ser respondidas pela polícia - O que objetos da Polícia Civil faziam no sítio? - Por que o GRE usou o sítio de um policial exonerado e com ficha criminal para treinamento? - Por quais motivos o local ainda abrigava grande quantidade de munição? - Qual a relação de Bola com agentes os do GRE? - Qual o andamento das investigações da Polícia Civil sobre a atuação de um suposto grupo de extermínio? - Por que Bola, que é amigo de policiais, foi o único dos detidos a usar um capuz para esconder o rosto ao chegar na delegacia na quinta-feira?
Fonte: o tempo.com.br
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